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3 - A Verdade pede Tabaco

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Mensagem por Ibuky Qui maio 14, 2009 10:48 pm

Na manhã seguinte não me desesperei para levantar muito cedo, era um sábado e a Casa ficava fechada – só clientes que faziam reserva agendada podiam desfrutar do local aos finais de semana, e Tasuku dava conta deles sozinho.

- Hm... 11:00... Sinto que vou morrer se ficar mais tempo deitado – menti para mim mesmo e levantei preguiçosamente, me arrastando para o banheiro.

É incrível como um jato de água gelada pode renovar um homem. Decidi que minha semana já tinha sido estressante o suficiente, coisas como a ilusão que tive de dois homens me dopando e o comportamento de Tasuku na noite anterior...

Comi qualquer besteira que chamei de almoço em uma lanchonete que ficava próxima ao centro de Kyoto, depois dei uma volta pela cidade a fim de respirar um pouco de ar puro... Ou quase isso. Por volta das 18:00 parei em um bar para tomar um uísque – ou qualquer coisa que tivesse álcool. Ao contrário dos viciados, eu não bebia até cair ou perder o juízo, mas sentia que iria ficar louco se passasse mais de uma semana sem colocar uma gota desse tipo de bebida na boca.

- Uma Kirin*, por favor.

O barman me deu a lata e um copo, o qual encheu e esvaziou em pouco tempo. Pedi mais uma lata, dessa vez demorei mais saboreando o líquido.

- Boa noite, seu pé de cana.

A voz me soou logo atrás de mim, parecia-me conhecida, então tratei de virar. Acho que a mulher que estava ao meu lado me amaldiçoa até hoje pelo jato de cerveja que cuspi nela ao ver quem me chamava: Hou.

- Posso te fazer companhia? – é claro que eu iria recusar, mas notei que ele tirou um canivete do bolso e deixou a lâmina à mostra como quem quer dizer “Pode fugir, mas um pedaço seu eu arranco!”
- É claro...
- Conheço um lugar mais confortável lá nos fundos, me acompanhe.

Minha consciência começou a pesar ao seguir ele pelo bar, mas era o único jeito de sair dali sem um pedaço a menos. Ele pegou a última mesa do local, sentou de costas para o resto do bar e eu sentei de frente para ele, de costas para a parede.

- O que te traz até aqui? – perguntei em tom sério em quanto tomava um gole de cerveja.
- Você foi atacado por Yakuzas.
- Quê?! – eu estava começando a me irritar com todos aqueles comentários confusos dos últimos dias.
- A noite em que 3 homens invadiram a casa, foi real. Não sei como você foi retardado o suficiente pra cair na do Tasuku de “Você estava bêbado”... Fracamente.
- Pelo amor de Deus! Me explique o que está acontecendo aqui, agora! – em um surto de coragem o puxei pela gola da camisa branca que ele usava e ele levantou da cadeira.
- Calma! – ele colocou a ponta acesa do cigarro na minha mão e eu obviamente cedi o tecido, fazendo-o sentar novamente – Tudo ao seu tempo, meu rapaz. Na realidade, eu já fui como você, Tasuku me contratou para ser atendente e ficamos bem apessoados...
- E...?
- Ele é Yakuza. Não presta.
- E quem é você pra me dizer isso? – apontei para o canivete que ainda estava apontado para mim.
- Ui, com o seu ‘Sukusuku-kun’ você não fala assim... – ele deixou um sorriso malicioso dançar pelos lábios – Eu vi você quase trepando com ele ontem, ele fez exatamente isso comigo, ganhou minha confiança, me seduziu e deu o bote...
- Isso por que você queria dar pra ele desde o começo, sendo garoto de programa, ou estou enganado?
- Garoto de programa?! Então foi desse jeito que ele me rotulou?
- Do modo que você fala e age, qualquer um chega a essa conclusão...
- Pobrezinho, está tão cego que até defende o Tasuku, e pensar que eu já fiz isso...
- CALE A BOCA! – decidi que já tinha ficado tempo demais ali e levantei, indo na direção da saída.
- Se não acredita e mim, acredite nos fatos! Procure sobre o símbolo que está grafado dentro da cigarreira que ele te deu há 1 mês!

Depois de ouvir isso eu definitivamente não queria mais olhar na cara de Hou. Como o desgraçado sabia da cigarreira?! Joguei o dinheiro das cervejas em cima do balcão e não esperei o troco, apenas corri na tentativa inútil de esquecer ou fazer aquilo desaparecer.

- Chega, chega... Eu desisto! – sussurrava para mim em quanto corria o mais rápido que eu podia.

Olhei o teto do apartamento, nunca me pareceu tão calmo. Eu já estava ali, deitado, havia pelo menos umas 2 horas... Um gosto ruim subia pela minha garganta – nada tinha a ver com a cerveja, era, como dizem, o gosto do desgosto. Adormeci e no dia seguinte simplesmente não levantei, esperei até a segunda-feira aparecer pela minha janela com aquele sol pálido. Agora minha preocupação era outra... A reação dele.

- Bom dia, Tasuku – as minhas mãos estavam úmidas de suor, como as de qualquer homem ficam ao encarar a/o garota/o em que deu o primeiro beijo no dia seguinte ao evento. Só que no meu caso, era pelo fato de ser o primeiro roubado por um homem.
- Bom dia – ele respondeu com um sorriso, como se nada tivesse ocorrido, o que me tranqüilizou em parte – Queria fazer uma outra encomenda de quadro, Victor.
- Ah, é claro. Aonde vai colocá-lo?
- Pretendo pendurar no meu quarto, por isso tem de ser um tema japonês.

Fiquei feliz ao saber que era para o quarto dele, pois sabia que ele só colocava lá coisas que achava de altíssimo valor e beleza – e, para um pintor, ouvir isso é como um troféu abstrato. Também sabia que ele gostava do folclore japonês, por tanto planejei pintar uma Sakura** na frente de um lago onde Kirins*** matavam a sede.

- Como desejar. – eu disse em quanto observava ele caminha até as portas do fundo, ainda me olhando.

Não o vi pelo resto do meu turno, quando o relógio marcou 15:00 eu fui embora. Dessa vez nada de Hou pelo caminho. Cheguei em casa de pleno bom humor, tomei um banho e liguei a TV em quanto preparava um yakisoba, pois fazia alguns dias que eu não comia nada decente. Estava passando o jornal da tarde, mas uma notícia me chamou a atenção.

No fim da noite de ontem – falava a repórter – foi encontrado um corpo em Kyoto, as autoridades acreditam que seja de um integrante Yakuza chamado Shiroyama Tanaka – nesse momento eu olhei para a tela rapidamente, será que era só coincidência? -. Seu envolvimento com a máfia foi descoberto pela forma com que foi morto e pelo que foi encontrado junto ao corpo: Cápsulas e comprimidos de ópio. Como se sabe, a Yakuza não aceita que seus integrantes se envolvam pessoalmente com esse tipo de narcótico e...

Desliguei o fogão e fiquei olhando para a tela da TV, sem prestar atenção no que a mulher dizia, mas esperando aparecer novamente a foto do suspeito. Assim que ela terminou de abrir e fechar a boca, a foto surgiu na tela: Bingo. Era exatamente igual ao rapaz que borrifara o pó cinzento no meu rosto alguns dias atrás.

- Caralho... – desliguei a TV e me recostei na parede... – Será que aquele filho da puta me disse mesmo a verdade?!

A cigarreira que Hou se referiu, em quanto bebíamos, estava na gaveta do meu criado mudo, tratei de pegá-la. A levei até a mesa da cozinha e fiquei observando-a por um tempo: era uma daquelas cigarreiras de mesa, que são maiores e mais bem trabalhadas que as comuns e, como era de se esperar, tinha motivo japonês, como tudo que Tasuku mais adorava. No início eu realmente achei estranho ele ter me dado ela sendo que eu não fumo. Abri a olhei na parte de dentro da tampa, para confirmar meu medo, lá estava o tal símbolo: Um losango com algo que parecia uma espécie de garra invertida dentro.

- Como ele sabe disso...? Como?!

Tive uma pequena crise nesse momento, pois parecia que eu era o único que não sabia o que estava acontecendo ali. Desenhei o tal símbolo em uma folha de papel e liguei o computado, agora eu iria a fundo nessa história de Yakuza. Fiquei até altas horas pesquisando, mas apenas descobri como era organizada.

“O Oyabun (pai) é o chefe geral, Wakashu são seus ‘filhos’ e Kyodai seus ‘irmãos’.

Há uma ordem hierárquica dentro da organização, onde o Wakagashira é o líder dos ‘filhos’ e o Shateigashira é o líder dos ‘irmãos’, sendo o segundo e o terceiro em autoridade geral, respectivamente. Mas a última palavra sempre será a do Oyabun.”


- Ta bom, e daí? – eu estava tão frustrado e enraivecido que desliguei o computador e fui dormir.

Passaram algumas semanas e entramos em Março, o mês que provavelmente seria o menos agitado do ano pela rara procura do local. Tasuku andava estranhamente enfurnado no quarto dele durante o dia, o que me deu uma chance para fuçar no computador da recepção algo mais sobre o tal símbolo e a Yakuza. Mas foi na minha casa que finalmente encontrei o que eu desejava. Um arrepio de preocupação e vitória correu pela minha coluna ao ver o tal símbolo e ler a legenda.

“Símbolo dos Yamaguchi-gumi, atualmente a maior família Yakuza do Japão”

Parte de mim ficou feliz por ter finalmente achado, e a outra desabou. Aquilo significava que ele era, de fato, um Yakuza?! Mas... E se fosse? Pra mim não fazia diferença alguma... Ou será que fazia? Ele mentiu pra mim... Não, eu tenho que parar com isso, estava parecendo uma garotinha idiota apaixonada... “Ele mentiu pra mim...”, pft...

Aquilo tudo era nauseante, mas a névoa finalmente estava baixando para mim. Apaguei o toco de cigarro que estava entre os meus lábios – eu tinha começado a fumar depois que impliquei com aquela cigarreira – e me joguei na cama. Adormeci quase imediatamente.

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* Kirin = Marca famosa de cerveja no Japão e na China
**Sakura = ‘cerejeira’, muito apreciada pelos japoneses (Eu sei que a maioria sabe disso, mas não custa lembrar)
***Kirin = neste caso a referência foi o ser mitológico chamado Kirin, o ‘protetor da verdade e da vida’. Tem o corpo de um cavalo, é coberto por escamas de dragão, tem rabo de raposa e pêlos de cores vivas na região das patas e do dorso.
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